Por que é tão difícil amar de verdade? Reflexão sobre o Dia dos Namorados

Data

13 de junho de 2025

Compartilhar:

Entre flores, chocolates e declarações românticas que inundam as redes sociais no Dia dos Namorados, uma pergunta desconfortável emerge: por que, mesmo com tanto amor sendo “celebrado”, ainda nos sentimos tão sozinhos?

 

A resposta pode ser mais simples – e mais complexa – do que imaginamos. Talvez o problema não seja a falta de amor, mas nossa dificuldade em amar de forma genuína.

 

O Mito da “Alma Gêmea”

 

Desde pequenos, somos bombardeados com a ideia de que existe uma pessoa perfeita para nós – nossa “metade da laranja”, nossa “alma gêmea”. Filmes, músicas e livros nos ensinam que o amor verdadeiro é quando duas pessoas se encaixam perfeitamente, sem conflitos, sem diferenças, como duas peças de quebra-cabeça.

 

Mas aqui está o problema: quando esperamos que alguém nos complete, não estamos realmente amando essa pessoa. Estamos amando uma fantasia, uma projeção do que achamos que precisamos para nos sentirmos inteiros.

 

Isso explica por que tantos relacionamentos começam com uma paixão avassaladora – que parece confirmar que “essa é a pessoa certa” – mas depois se transformam em frustração e decepção. O que aconteceu? A pessoa mudou? Na verdade, ela simplesmente começou a mostrar quem realmente é, com suas complexidades, diferenças e, sim, defeitos.

 

O Amor que permite diferenças

 

O amor maduro é diferente. Ele não tenta moldar o outro à nossa imagem e semelhança. Em vez disso, ele diz: Eu te amo, não apesar de você ser diferente de mim, mas porque você é você, com suas próprias ideias, sonhos e jeitos de ver o mundo.

 

Isso é mais difícil? Claro. Porque exige que lidemos com frustrações, que aceitemos que nem sempre vamos concordar, que o outro às vezes vai nos decepcionar ou nos desafiar. Mas é justamente aí que a magia acontece – quando conseguimos amar alguém real, não uma fantasia.

 

Nossa dificuldade para amar também reflete como nos relacionamos com o mundo. Vivemos em bolhas – seguimos pessoas que pensam como nós, algoritmos nos mostram apenas aquilo que confirma nossas opiniões, e quando encontramos alguém diferente, nossa primeira reação é julgar ou tentar “corrigir”.

 

Se não conseguimos ouvir de verdade nem um amigo que tem opinião política diferente da nossa, como podemos esperar construir uma relação íntima saudável com alguém que vai, inevitavelmente, nos desafiar de formas muito mais profundas?

 

O amor exige uma habilidade que estamos perdendo: a capacidade de conviver com o desconforto, com aquilo que não controlamos, com o diferente.

 

A capacidade de amar

 

Amar de verdade significa aceitar que relacionamentos são imperfeitos, que conflitos acontecem, que crescemos juntos – mas também separadamente. Significa entender que o outro não está aqui para nos curar ou nos completar, mas para compartilhar a vida conosco, com todas as suas belezas e dificuldades.

 

O amor verdadeiro não é aquele que não tem problemas, mas aquele que enfrenta os problemas juntos. Não é aquele que não tem dúvidas, mas aquele que conversa sobre elas. Não é aquele que nunca falha, mas aquele que se reconstrói após cada falha.

 

Talvez seja hora de parar de consumir amor como se fosse um produto pronto e começar a construí-lo, dia após dia, escolha após escolha. O amor não é um destino que se alcança, é um caminho que se percorre. E é justamente na jornada que está toda a beleza.

 

Jéssica Santos