Desconstruindo o Mito da Mãe Perfeita: Uma jornada pela maternidade real

Data

7 de maio de 2025

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“Errar é humano” – todos conhecemos esta frase, mas quantas vezes realmente aplicamos este princípio em nossa vida materna? Quando falamos sobre os tropeços inevitáveis na relação entre mães e filhos, a situação torna-se ainda mais delicada para ambos.

 

O erro faz parte de quem somos e de todas as relações que construímos. Como diria Winnicott, não existe a “mãe perfeita”, mas sim a “mãe suficientemente boa” – aquela que consegue atender às necessidades básicas do filho, mesmo com falhas e limites. É neste espaço entre o ideal e o possível que encontramos o acolhimento das nossas ambivalências.

 

Compreender esse processo de “flexibilidade” permite que você, como mãe, reconheça seus erros sem ficar presa a eles, e que seu filho compreenda que você também é uma pessoa com emoções, limites e história própria. É um movimento de ampliar o olhar, saindo da rigidez da culpa para um espaço de aprendizado mútuo e crescimento compartilhado.

 

A ARMADILHA DA IDEALIZAÇÃO MATERNA

 

Vivemos em uma sociedade que romantiza a maternidade enquanto impõe às mulheres padrões impossíveis de alcançar. A falta de maleabilidade na relação mãe-filho, geralmente, vem da imagem idealizada da mãe: aquela que nunca se irrita, está sempre disponível, e resolve tudo com amor infinito e paciência inesgotável.

 

Esta imagem é não apenas inalcançável, mas profundamente solitária. Ser mãe não é ser perfeita – é ser humana, com todas as contradições que isso implica. A mãe real precisa ser validada em sua ambivalência (é normal ter sentimentos contraditórios), acolhida em suas limitações e reconhecida como uma pessoa completa. Amar um filho não é sobre perfeição, mas sobre constância e capacidade de reparação quando erramos.

 

Quando não nos permitimos errar, vivemos em estado de alerta constante, desenvolvendo uma exaustão emocional muitas vezes invisível. A ideia de que “mãe não pode errar” é desumana e nos afasta do autocuidado, da leveza e da autenticidade na relação com nossos filhos.

 

Pense naqueles momentos em que, na correria da rotina, você deixa seu filho com celular ou na televisão para conseguir realizar tarefas domésticas ou simplesmente ter alguns minutos para si. Acolher seu processo na maternidade neste aparente “erro” é fundamental para que a idealização da maternidade não comprometa seu bem-estar emocional.

 

COMO A RIGIDEZ AFETA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS 

 

Este conflito interno também interfere no desenvolvimento do seu filho. A percepção limitada e rígida, causada pela idealização, pode fazer com que você desenvolva uma superproteção que, inevitavelmente, afeta o desenvolvimento emocional da criança. Se você erra, seu filho também pode errar. É importante que ele possa ter as vivências dele, porém tentar criar uma “pessoa perfeita”, enquadrando em modelos e expectativas, causará danos à relação. O erro e a frustração são ferramentas essenciais para o crescimento psíquico e emocional.

 

Crianças que não enfrentam frustrações crescem com baixa tolerância ao erro, dificuldade em lidar com adversidades e pouca autonomia emocional. Ao tentar impedir qualquer experiência dolorosa, você impede, também, o desenvolvimento dos recursos internos da criança. Ensinar que a vida inclui limites e frustrações é um presente valioso, ainda que temporariamente doloroso.

 

CONSTRUINDO UMA MATERNIDADE AUTÊNTICA 

 

A experiência clínica com mães mostra o quanto muitas se cobram por não serem “perfeitas” – como se a falha natural do ser humano invalidasse todo o cuidado, afeto e presença que oferecem diariamente. A construção de um vínculo consistente e verdadeiro passa pelo estabelecimento de contato genuíno, através do olhar presente e da disponibilidade emocional real – não perfeita.

 

Em momentos de conflito, a capacidade de acolher seu caminho na maternidade e reconhecer seus próprios erros tem efeito transformador. Para a criança, compreender que a mãe também tem momentos de desorganização, mas permanece aberta ao diálogo e à construção conjunta de soluções, representa um alívio significativo e um aprendizado valioso.

 

Criar um espaço onde seu filho possa se sentir ouvido, acolhido e respeitado em sua individualidade é o que fortalece a conexão entre vocês. A maternidade não é sobre hierarquia rígida, mas sobre amor, cuidado e uma aprendizagem recíproca que acontece todos os dias. Permitir reflexões sobre seu papel materno não é falhar como mãe – é o caminho mais autêntico para criar filhos que também se permitirão ser humanos.

 

Vamos juntas nessa caminhada?

Jéssica dos Santos